domingo, 11 de maio de 2008

CAPÍTULO DOIS: TEM QUE TER DISPOSIÇÃO [parte 4]

MC Créu - Créu


Antes mesmo que eu pudesse esboçar qualquer reação sou puxada para dentro da roda de dança.
"A primeira é devagarzinho, só o aprendizado..."
- Isso aí Nicky, vamos mexer as cadeiras - ouço a voz de Quitéria me incentivando.
E quando me dou conta, cá estou eu mexendo o quadril na dança do Créu! Me deixando levar pela música e dominada completamente pelo álcool, danço até cansar, sem pensar em nada.
Ouvindo os últimos acordes de "créu, créu, créu, créu..." abro os olhos. É aí que tenho um dos maiores sustos de minha vida. Eu, Nicky, a pacata moçoila de Alterosa do Sul, estava em cima do palco mexendo as cadeiras freneticamente ao som das últimas batidas do Créu, enquanto todos batiam palmas lá embaixo.
Desço desesperada. Acho que o álcool evaporou com o suor que produzi na dança. Tanto que fiquei sóbria. Não totalmente, mas agora, mesmo que tarde, estou a par de minhas funções motoras e posso até ficar envergonhada de minha exibicionista performace.
- Caraca Nicky! Onde aprendeu a dançar assim? - Quitéria, completamente alterada, vem em minha direção.
- Qui, o que eu fiz? Que vergonhaaa - ainda podia sentir alguns olhares curiosos e outros até meio "famintos" vindo para mim.
- Relaxa e goza. Você estava demais amiga!
Nem me dei ao trabalho de explicar para Quitéria que nunca gostei de ser o centro das atenções. Muito menos naquela situação, onde nem eu mesma sabia ao certo o que havia feito. Só sabia que a combinação bebida, palco, dança do créu e quadril rebolando freneticamente não devia ser coisa boa!
Me despedi da Quitéria e fui pegar um táxi. Já tinha causado demais em uma só festa. Acho que não vou conseguir passar despercebida nesses 5 anos de curso como tentei, apesar de também sem muito sucesso, em Alterosa do Sul.
Talvez esteja fadada aos refletores e às situações um tanto constrangedoras.

[fim do segundo capítulo]